Matriz

AS MÁSCARAS E O CASTIGO DIVINO

Gociante Patissa
foto/ilustração:
Kumenga Kumma

“Se choramos aceitamos, é preciso não aceitar” António Cardoso)

Chamo-me Silvestre. Silvestre Kanjaya. Todo o mundo me chama Semestre, inclusive a minha sogra. Se me perguntam a partir de que momento passei a ser o Semestre, pouco sei dizer. Na verdade, absolutamente nada, exceptuando a hipótese da praga de castigo divino que um antigo empregado meu me rogou, andava eu na casa dos vinte e coisa anos, quando em boa hora dei por findo o contrato por período experimental do rapaz a coberto da lei num distante segundo semestre.

Voltou-me as costas e partiu. Sem esboçar um aceno de despedida. Nem Deus saberia controlar a ira com que expeliu a praga, depois de se assegurar fora do alcance. Ainda tentei ir atrás e solicitar que fosse mais específico, doseasse o castigo divino que acabava de plantar no meu destino. No instante vi-me tentado a intuir, porque me favorecia, que seriam palavras da boca para fora, uma máscara do mau perder, contra a minha, a lei laboral. No fim das contas, homens são as máscaras com que se impõem consoante a circunstância.

Que me perdoem se for apenas paranóia, é que eu repugno a coincidência com que as minhas desgraças têm lugar desde aquele insosso dia. Justo no decurso de segundos semestres, sempre assim, mas é que é assim sempre! Eu e os segundos semestres não servimos.

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