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A dissociação entre o conhecimento Dos alunos na escola e na vida

Paulo Inglês
foto/ilustração:
Arquivo Ngapa

À lupa, a Educação e o sistema de ensino em Angola. Paulo Inglês,  Coordenador do Departamento de Altos Estudos e Formação Avançada da Universidade Jean Piaget de Angola, viajou ao Soyo para uma conversa com o professor Lando Emanuel Ludi Pedro, Presidente do Instituto Superior Universitário Nimi ya Luneki (INSPUNYL) e autor de vários estudos sobre o ensino no país. Dois académicos numa conversa aberta e profunda com uma pergunta de fundo central: que sistema de Ensino queremos e precisamos para Angola?

Paulo Inglês – Quando sobrevoava a cidade, reparei no verde exuberante e, já em terra, senti o bafo quente e húmido. Noutras partes da África, os alunos estão de férias nesta época de calor, mas nós estamos em aulas e no cacimbo é que vamos de férias. Essa decisão é política, circunstancial ou cultural?

Lando Emanuel Ludi Pedro – Essa é uma questão provocatória (risos). Há dois elementos importantes a analisar por que mudámos o ano académico. Primeiro, deveu-se à covid, foi necessário readequar o calendário escolar, tendo em conta a paralisação das aulas e a possibilidade da divisão dos turnos dos alunos. O segundo ponto, e mais profundo, prende-se com o facto da nossa Educação não estar e nunca ter estado organizada nos moldes que a Unesco estabelece para a configuração e a construção do sistema educativo. Temos a tendência de aproximar-nos ao sistema português. De 1975 para cá, não temos fugido a essa lógica de certa dependência das políticas europeias, que determinam a nossa visão.

Falando em políticas, isso não cria desencontros?

Quando os nossos alunos terminam a formação, uma vez postos em Portugal, Moçambique ou África do Sul, por exemplo, não têm uma equivalência dos seus estudos. Em muitos casos, acabam por repetir classes para se adequarem aos níveis aí exigidos. Portugal é um dos lugares que mais recebe angolanos para estudar, mas em questão da formação, precisamos de nos diferenciarmos dos países onde os nossos quadros se formam.

Portugal e Brasil também.

Mas a escola dos políticos que fazem política educativa angolana acaba por ter peso.

Ou seja, isso depende da opção da elite intelectual.

Sim, é uma questão de opção. A desadequação da política educativa, sobretudo com reflexo nas nossas comunidades, já é um problema com mais de 500 anos. Os processos que levaram à aprovação da própria Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino, não respaldam a necessidade de ajuste das políticas, currículos e programas à realidade dos povos. A ausência de estudos sociológicos e antropológicos que representem a nossa realidade e as nossas necessidades acabam por ditar, em grande parte, essas discrepâncias que temos vivido em termos do calendário escolar, por exemplo.

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