Matriz

Paulo Freire: arquiteto da palavra-mundo

Ledo Vaccaro | Taiana Machado
foto/ilustração:
Associação Tchiweka de Documentação

Liberdade — essa palavra que o

sonho humano alimenta: que não

há ninguém que explique,

e ninguém que não entenda.

Cecília Meirelles

A utopia da Educação

É quase uma unanimidade a ideia de que a Educação é a possibilidade de construção de uma sociedade justa na qual os homens sejam livres. Também não é incomum ouvir queixas de que a Educação está falida, não funciona, não cumpre sua função. No entanto, se a Educação não funcionasse, a sociedade não investiria tanto esforço em sua direção.

A Educação funciona e tem os seus propósitos. Se ela não cumpre os ditames que se encontram nas letras de seus planejamentos, é mister que busquemos os propósitos que estão velados, os objetivos não declarados que fazem com que continue como está. Para construir uma Educação pautada na justiça e na liberdade, é preciso compreender melhor o que se entende por “sociedade justa” e por “homens livres”.

Pedagogia do oprimido

O educador Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais relevantes na história da Pedagogia. Patrono da Educação brasileira, sua metodologia influenciou o processo de alfabetização e a construção de manuais pedagógicos durante e após as lutas de independência em Angola. Freire defendia a Educação como prática de liberdade, condição básica na construção de uma sociedade justa.

Em “Pedagogia do Oprimido” (escrito em 1968, durante seu exílio no Chile, mas publicado no Brasil somente em 1974) o autor identifica como a Educação mantém a dominação do opressor sobre o oprimido, fundamentando as ações dessa Educação opressora em uma teoria antidialógica. Em oposição, propôs uma Educação libertadora, uma Educação capaz de romper as relações de dominação através da construção de uma consciência crítica no oprimido. Essa proposta baseia-se numa teoria dialógica. Todo seu trabalho fundamenta-se no diálogo entre os homens, na aprendizagem do homem com o homem, mediatizados pelo mundo.

Dialogar pressupõe uma relação horizontal daqueles que falam. Pressupõe que não haja alguém que possua a palavra e que, por possuí-la, deposita sua palavra no outro. Pressupõe uma relação de troca de experiências, de relato dos fazeres, de reflexão desses fazeres, de identificação dos problemas, de exposição das contradições. Agir e refletir sobre o agir é a práxis, e é na práxis que se constrói a consciência crítica.

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